Olá, amigas e amigos leitores e todos os demais, em qualquer lugar que estejam. Estou-lhes imensamente agradecido por estarem aí. Vocês não sabiam da minha existência, mas porventura para mim eu também existo. O meu nome é: João Romão da Ponte o meu falecido pai e mãe chamavam-se, em vida, ele, Francisco Bernardo da Ponte, ela, Isabel Cabrita Romão, nascidos no sítio do Cerro do Ouro, freguesia de Paderne, concelho de Albufeira, distrito de faro, Algarve, Portugal. Na minha infância, quando frequentava a escola primária, gostava de escrever versos, mas tinha mais jeito para os ditados. A senhora professora, quando os mesmos lhe eram entregues, deixava-me sempre para último e dizia-me: “Joãozinho, ficas para último, para eu ler com tempo o que inventaste hoje.”
Pouco a pouco, fui crescendo e comigo cresceu a vontade de escrever. Guardava tudo o que escrevia num velho baú, o mesmo que guardava tantas recordações familiares. Certo dia, escutei alguém dizer que um homem, para ser completo, tinha de engendrar um filho, escrever um livro e plantar uma árvore.
Eu pensei que as três coisas deviam ser maravilhosas e que ia tentar fazê-las. Primeiro, a minha querida esposa, Manuela, deu-me o meu primeiro filho, Juan Carlos, que é maravilhoso. Depois, continuei a escrever, para tentar editar o meu primeiro livro de contos, o qual espero que leiam e apreciem. Nos meus tempos livres, nunca deixei de escrever. Três anos depois, tivemos a nossa primeira filha, Maria Isabel, “Lita”, depois a segunda, Sílvia Cristina, “Vivinha”. Com estas duas encantadoras rosas, completámos este lindo jardim, que é o melhor presente que a vida nos deu. Delas nasceram duas preciosas netinhas, Victoria, com seis anos, e Valentina, com três. Elas são um presente da ternura, duas luzes que iluminam as nossas vidas. Já tenho o material para escrever dois livros mais e penso que valeu a pena: três filhos, três livros. Não importa que seja para esse objectivo somente. Eu nunca procurei a perfeição, porque, para mim, nunca nasceu o mortal perfeito e tão pouco nascerá.
Certo dia, sendo eu pouco mais que um menino, contava apenas quinze anos, comecei a perceber que vivíamos num país cheio de injustiças e órfão de liberdade. Comprei uma lata de tinta, de cor encarnada, que é a cor da vida e da liberdade, e um pincel e comecei a pintar as paredes, nas partes mais visíveis, com os meus versos contra a nefasta ditadura salazarista, que oprimia a nosso povo e a nossa pátria.
Aí começou a perseguição e muito cedo tive de partir, sendo ainda menor de idade. Deixei para trás tudo o que eu tanto amava. A minha querida pátria, os meus queridos pais, amigos, camaradas e familiares, vizinhos, entre outros. A partir daí, comecei a peregrinar por vários países latino-americanos, Venezuela, Argentina, Chile, Uruguai e outros mais. Por fim, chegou o feliz dia em que pude regressar. Encontrei o meu querido Portugal respirando liberdade. E tive o maior privilégio que a vida nos dá, que foi abraçar e beijar os meus queridos pais, amá-los e estar junto deles. Vivi essa grande felicidade durante três meses.
Para começar de novo, era já um pouco tarde e regressei novamente para onde fui pela primeira vez, transitando os mesmos caminhos. Por onde passei, deixei muito em alta o gentílico português e sempre honrei o nome do nosso querido Portugal.
Assim como o mundo dá voltas, na nossa vida sucede de igual forma. Resolvi regressar definitivamente, já com alguns anos em cima, mas voltei ao cantinho que me viu nascer.
Quando cheguei à casa onde nasci, estava vazia e não encontrei a quem abraçar. Ela já não estava pintada como antes, de branca cal, tinha uma cor cinza, como o meu cabelo. Estavam fechadas janelas e portas e, entre as naturezas mortas, encontrei florescidas as rosas da minha mãe. Elas ressuscitaram o excelso perfume das suas amorosas mãos, como quando elas acariciavam o meu rosto, e sigo recordando os dias mais felizes da minha vida e sigo fazendo-o a cada instante, porque “recordar é viver”.