É o que dá, um maduro de 69 anos viajar no tempo para os anos 50 e partir daí para a Cornualha.
Só podia desaguar nisto.
Natural de Lisboa, faz os seus estudos na mesma cidade e licencia-se em Engenharia Eletrónica no Instituto Superior Técnico.
Quem diria que iria dedicar-se a escrever peças de teatro e romances?
Sim, quem diria. No entanto, vemos que Miguel Torga era médico, Eça era licenciado em Direito, Camilo andou entre Direito e Medicina e Jorge de Sena era Engenheiro Civil.
Escrever não exige carteira profissional... felizmente.
Trineto dum escritor teatral - Francisco Rangel de Lima - terá herdado os genes do trisavô. Quem sabe? Na verdade, o teatro sempre o apaixonou e, no Liceu Camões, professores como Vergílio Ferreira influenciaram-no a aventurar-se no mundo da literatura para além da cartilha oficial. Descobriu Eça de Queiroz, Camus, Beckett. o grande Fernando Pessoa, Oscar Wilde, Steinbeck...
Nunca considerou os mundos da Arte e da Ciência incompatíveis, mas antes mutuamente inspiradores.
Sempre considerou que, quer na Engenharia, quer na Escrita, a criatividade era, em ambas, fundamental.
Como não conseguiu saída profissional criativa na Engenharia (só uma breve incursão, com o saudoso Eng. Jaime Filipe, na investigação da prótese de uma mão, que abortou por corte no subsídio), procurou-a na Matemática, criando um programa pioneiro de matemática para o ensino básico no externato As Descobertas, onde acaba por se fixar, dedicando-se a construir, com uma equipe de heróis, uma escola digna desse nome.
Assume o cargo de Diretor Pedagógico, sob o desígnio da tal criatividade. Uma escola sem criatividade é um Diário da República.
Com o Teatro e a Matemática sempre a pulsar em sincronia, o autor, com os seus alunos, vai vivendo nos dois mundos e usufruindo das interseções.
Clubes de Teatro para alunos e ex-alunos são o sonho em movimento.
Retrospetivamente, a publicação do primeiro livro – Vamos, agora, fazer uma peça que se perceba – só podia acontecer durante a merecida e proveitosa aposentação.
Tomando-lhe o gosto, publica Os Pássaros Não Têm Orelhas (peça de teatro) e o primeiro romance – nova aventura – Não Mates a Mãe de Desgosto e, a seguir, Escreva, por favor, Espinosa.
O que se seguirá? Bem, «as coisas acontecem antes de acontecer», como disse Clarice Lispector.