“As sombras da noite” é uma colectânea de 70 poemas desassossegantes que nos convoca para os grandes dilemas e interrogações da existência humana. Na inquietação das sombras que a noite revela, o autor apresenta-nos uma profunda e poderosa reflexão sobre o sentido da vida, o desperdício da morte, a miséria da condição humana e os contornos da solidão imensa do pensamento crítico e desencantado: “Estamos mortos, verdadeiramente mortos. Só o fulgor das ilusões nos faz pressentir, a cada momento, que estamos vivos. O que julgamos viver, nada mais é do que o lastro que a ilusão que pomos em cada coisa, incessantemente, vai tornando vivo. A vida é assim uma mera ilusão que morre quando já não há mais nada por que se iludir”.
Hugo Amaro nasceu em 1962, no Funchal, onde passou a infância e adolescência, no seio de uma família numerosa. Mudou-se para Coimbra, nos anos oitenta, onde se licenciou em Direito. Embora apaixonado pelo ambiente intelectual da Lusa Atenas, regressou ao Funchal para exercer advocacia, atividade que cedo abandonou para abraçar funções na Administração Pública, nas áreas de consultadoria e administração de serviços de saúde.
De personalidade tímida e introspectiva, desde cedo revelou um grande pendor para a escrita, em detrimento da oralidade, com a leitura absorvente de grandes escritores, como Thomas Mann, Herman Hesse, Fernando Pessoa, Miguel Torga e Eugénio de Andrade, a servir-lhe de inspiração para se abalançar a escrever. A sua predileção de espírito é a prosa, mas o «struggle for life» tem coartado a sua concretização. Tem preenchido os seus ímpetos literários com poemas, que não exigem delongas de estrutura narrativa, constituindo instantâneos de alma e angústia.
São alguns desses poemas, avulsos, escritos ao longo de alguns anos, que agora se dá à estampa, coligidos como Rio Percorrido (pedaços de vida).